Muitas vezes falhamos em entender como o sistema que criamos dentro dos nossos negócios levam as pessoas a terem comportamentos indesejados: Nas últimas semanas vem circulando pelas redes sociais e pelo WhatsApp o vídeo de uma dinâmica de grupo sendo conduzida dentro de uma empresa em que o instrutor entrega para cada participante uma bexiga e um palito de dente e mostra um “bolo” de dinheiro, dizendo que, ao final da dinâmica, aquele que ainda tiver em suas mãos a bexiga cheia irá levar para casa os mil reais que está em suas mãos.
Caso o caro leitor ainda não tenha assistido ao desfeche da dinâmica, você pode imaginar o que se passa nos próximos minutos do vídeo: as pessoas começam a estourar a bexiga dos colegas de trabalho até que não sobre uma única para contar a história. E não acaba por aí, antes de encerrar o instrutor aplica a sua lição de moral, dizendo que ele nunca falou que as pessoas deveriam ter estourado a bexiga dos colegas, e que se todos ainda tivessem a bexiga em mãos todos levariam o prêmio, mostrando como todos ali na sala são péssimas pessoas e que não sabem trabalhar em equipe.
O leitor desavisado pode ter achado a brincadeira muito engraçada e não ter se espantado com o comportamento dos participantes, “é de se esperar que as pessoas tenham pensado apenas em si próprias e terem tentado levar a melhor, é isso que vejo todos os dias acontecendo dentro da minha fazenda.”
Gostaríamos, no entanto, de colocar um outro ponto de vista para o experimento. o instrutor entrega um palito de dente para cada pessoa, com sua ponta afiada, feita para estourar bexigas e sem seguida não deixa não deixar claro que todos poderiam ganhar o prêmio ao mesmo tempo, desde que deixassem suas bexigas inteiras e ainda assim espera um comportamento diferente? No final ainda dá uma lição de moral esperando que com aquela lição todos aprendam a ser pessoas melhores. Não é exatamente isso que fazemos todos os dias dentro dos nossos negócios? Criamos um sistema e um ambiente de trabalho complexo, que dificulta o trabalho, que induzem as pessoas ao erro, sem deixar claro o que se espera das pessoas desde o início e no final damos sermão pelo mal comportamento dos empregados.
Como gestores temos que entender que o “sistema” que criamos dentro da fazenda irá influenciar diretamente no comportamento das pessoas e consequentemente nos resultados. Quando dizemos sistema gerencial não estamos falando de softwares e “aplicativos 4.0” mas sim de um conjunto de fatores que estão presente no dia a dia do trabalho das pessoas: a forma como o ambiente está organizado; a facilidade de se executar uma tarefa; as maquinas, equipamentos e infraestrutura da fazenda; a qualidade da matéria prima e insumos que são utilizados; como os processos estão organizados; como é o fluxo de trabalho e as dificuldades que as pessoas enfrentam para executa-lo; o comportamento dos lideres e gestores frente aos acontecimentos do dia a dia; como as pessoas são capacitadas e muitos outros fatores. Por exemplo, um gestor que tem o comportamento de reprimir as pessoas frente a um problema ou um erro que aconteceu pode fazer com que as pessoas passem a esconder problemas, criando uma cultura de medo, e não uma cultura onde os problemas ficam visíveis, as causas raízes são identificadas e eliminadas.
No artigo da próxima coluna iremos continuar explorando exemplos do dia a dia da fazenda de como o gestor pode organizar o sistema gerencial para que as pessoas tenham os comportamentos que ele espera, e claro, melhores resultados.
Para ficar na cabeça: “Um sistema ruim sempre vencerá uma pessoa boa.” – W. Edwards Deming
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